
Perdão, não posso te perdoar assim (parte final)

Por fim, uma última questão que surge quanto ao perdão é:
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- Devo perdoar imediatamente ou posso esperar?
Isso é possível e até esperado. Mas o ofendido, dada as circunstâncias de sua dor pode se recusar temporariamente a ouvir o pedido de retratação do ofensor, de modo que não é obrigado que o faça imediatamente. Cada situação deve ser tratada de uma forma particular.
Algumas coisas devem ser levadas em conta e podem ajudar a decidir se é ou não o momento de ouvir o pedido do ofensor.
- A gravidade do fato ocorrido.
Um homem que mata ou estupra a filha de alguém não deve esperar que no dia seguinte, ainda que arrependido, receberá de pronto o perdão daquela família e talvez nunca receba. Ele pode até encontrar isso, mas será raro e anormal. Uma esposa que vive no adultério por 3 anos, ao ser descoberta pelo Marido, não deve esperar que este a perdoe de imediato. Um pedófilo descoberto numa igreja deve entender que o arrependimento verbal não será suficiente. Só o tempo trará reparações e isso quando for possível, pois há feridas que precisam de tempo para sarar, se é que sararão.
Porém, existem ofensas mais brandas, comuns, corriqueiras e de menor impacto, sendo por isso objeto do perdão imediato. Apesar de crentes, somos humanos e precisamos lidar com cada caso separadamente. Infelizmente, a natureza humana faz com que ofensas menos graves sejam muitas vezes punidas com excessivo rigor, tornando o penitente um eterno escravo da ofensa.
- A frequência da prática do mal.
Deve ser levando em conta o histórico do mal praticado. Ele é pontual ou sistêmico? Há uma enorme diferença entre pessoas que escorregaram e caíram, e depois sujas se levantaram buscando mudança e perdão, daquelas pessoas que escorregam e se deleitam no chiqueiro, vivendo na imundícia de seus atos. Fato é que ambas querem o perdão imediato se confessarem após serem apanhadas no erro. Porém, nem sempre isso será possível.
- Histórico passado.
Aqueles que tem um histórico de mentir na confissão de pecados praticados, não devem se admirar se as pessoas não acreditarem mais em pedidos de perdão meramente verbais. Jesus disse que a palavra do homem deveria ser “sim, quando for sim e não, quando for não!” Credibilidade na palavra é adquirida assim como também pode ser perdida. Quem perdeu a credibilidade deve considerar que levará tempo para adquiri-la novamente.
Durante a primeira viagem missionária no ano 46-47 d.C, Paulo e Barnabé levaram consigo João Marcos. Esse jovem, parente de Barnabé havia dado sua palavra de que os apoiaria na viagem ministerial. Tudo estavam indo bem. Paulo chegou a Chipre (At 13), fez grandes coisas em nome de Jesus. Depois seguiu ao norte para o continente onde teve uma triste surpresa. João Marcos decidiu abandoná-los (At 13.13). Naquela época, isso significava inclusive expor a vida dos que ficaram sós a riscos. Pela graça de Deus nada mais grave aconteceu. Mas João Marcos ficou marcado na mente de Paulo como alguém indigno de confiança para o ministério.
No ano 51-52 d.C, Paulo decide iniciar uma segunda viagem missionária para verificar como estavam as igrejas que foram plantadas durante a primeira viagem deles. (At 15.36-38) Barnabé concordou e disse que gostaria de levar João Marcos. Porém, Paulo se opôs, dizendo que não era justo levar alguém que havia abandonado a jornada no passado. Houve grande discussão e Paulo não cedeu aos apelos de Barnabé, que contrariado pegou seu sobrinho e foi noutra direção. Será que João Marcos não havia se arrependido do que fez? Será que ele não se desculpou com Paulo e Barnabé por tê-los abandonado? Acredito que sim! Mas Paulo queria mais, queria ver mudança na prática. O Arrependimento verbal é necessário, mas nem sempre suficiente.
O texto termina dizendo que foram Paulo e Silas, que saíram para viajar encomendado pelos irmãos à graça de Jesus e não Barnabé e João Marcos (At 15.40). O arrependimento verbal de João Marcos não fora suficiente para Paulo. 15 anos depois em 67 d.C Paulo escreve a Timóteo (2 Tm 4.9-11) dizendo que Demas, assim como João Marcos havia feito no passado, o havia abandonado. Talvez esse fato tenha feito o Apóstolo perceber a mudança real de João Marcos, levando-o a pedir que Timóteo o trouxesse pois ele agora lhe era útil ao ministério. Talvez tenham demorado 15 anos para Paulo verificar e agora reconhecer que João Marcos havia de fato se arrependido e mudado.
É possível que tenhamos que dizer àqueles que nos ofenderam: “Prezado ofensor(a), talvez seu arrependimento seja até real, Deus o sabe! Nós porém não temos hoje como afirmar isso. Assim, tenha paciência conosco da mesma forma que tivemos com você.”
Então caro(a) ofensor(a), Perdão por não te perdoar assim!
- Assim, sem confissão espontânea!
- Assim, sem admissão total de culpa!
- Assim, sem evidências permanentes!
- Assim, sem frutos dignos de arrependimento!
- Assim, sem dar tempo para feridas cicatrizarem!
Agiremos com o amor de Jesus, a prudência da serpente, sendo inofensivos com as pombas...
Ah! esperamos poder contar com seu perdão.
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Marcos Samuel ♦ Pastor
IBR Bragança