
Perdão, não posso te perdoar assim (parte 2)

Como dissemos anteriormente na primeira parte desta pastoral (caso não tenha lido, clique aqui ), existem alguns bons indicativos para se averiguar se o arrependimento é sincero e real. E o choro não é um deles. Vimos a necessidade de Confissão espontânea e Admissão total da culpa. Outros indicativos são:
Evidências permanentes
Além de confissão espontânea e da admissão completa da culpa, o arrependimento real é marcado ainda por evidências constantes do abandono da prática do pecado. Aqui requer-se muito cuidado. Interromper momentaneamente o cometer de um pecado não é o mesmo que parar com a prática constante dele.
Muitos lares sofrem no trato com entes dependentes de álcool ou drogas ilícitas. Alguns chorando pedem perdão à família e jogam a bebida e as drogas no lixo. Depois afirmam claramente: “Viram, eu parei!” Mas a verdade é que eles ainda não podem dizer que abandonaram a prática daquele pecado. Isto porque, para se verificar o abandono da prática, do hábito, da rotina do pecado dos vícios, obrigatoriamente precisarão do fator “tempo” para dar evidências reais. Isso mesmo, serão os dias, as semanas e os meses que irão mostrar se o arrependimento foi ou não real.
Desse modo, o verdadeiro arrependimento não consiste apenas em uma mera confissão verbal, mas também em dar evidencias permanentes desta transformação. O próprio Jesus agiu assim. Quando lhe trouxeram uma mulher para ser apedrejada por adultério, Ele não perguntou: “Mulher, diga-me: Você está arrependida?” E se perguntasse, não teríamos dúvidas de que a resposta seria: “Sim mestre, eu estou!” Porém, Ele apenas disse à ela: “Mulher vá e não peques mais! Ou seja, era como se dissesse à ela: “Mulher, neste momento suas palavras podem ser sinceras, mas pouco adiantariam. Portanto, vá e viva seu arrependimento todos os dias, viva-o para que todos o vejam. Vá, pois o tempo irá evidenciar isso!”
Muitos querem receber misericórdia prometida no texto de Provérbios 28.13 imediatamente, ao confessar um pecado. Porém, interromper o pecado e verbalmente confessá-lo, leva apenas um instante, mas deixar a prática desse pecado com evidências permanentes leva mais tempo. É isso que significa: “Quem confessa e deixa alcançará misericórdia”. Quer misericórdia? Confesse, mas mostre também no tempo que realmente deixou o mal para trás. Até as árvores precisam de tempo para dar frutos. De frutos também!
Se crentes fiéis podem esperar às vezes por longo tempo, orando e sofrendo enquanto aguardam que um pecador se arrependa e mude, o pecador também pode esperar algum tempo para que as evidências do verdadeiro arrependimento surjam e ele então alcance a misericórdia desejada. Feridas levam tempo para cicatrizar, assim como árvores precisam de tempo para dar frutos. A Bíblia diz que há tempo para tudo... Eclesiastes 3, então espere o seu.
- Posso duvidar de alguém que diz estar arrependido?
É claro que sim! “...Portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas.” (Mt 10.16)
Jesus disse para sermos primeiro como as serpentes, e só depois como as pombas. Disse isso, pois se adotarmos primeiro a postura da pomba, morreremos e não teremos oportunidade de sermos como as serpentes. Ser igual serpentes não é sermos traiçoeiros, venenosos e maus. A característica destacada na analogia é a prudência deste animal. Ela pacientemente observa, não se precipita, nem se expõe. Ela sabe esperar o momento certo para agir e por isso raramente erra seu objetivo. É assim que uma igreja bíblica deve ser no trato com os pecadores arrependidos. Prudentes primeiro e só depois inofensivos.
Certamente alguns irão se opor a isso, dizendo que só Deus é capaz de ver o coração do penitente e que como humanos não temos o direito e nem a capacidade de dizer se o arrependimento é ou não real. Dirão também, que devemos dar perdão com base na confissão do pecador e deixar Deus revelar a verdade.
Sem dúvida sabemos que só Deus vê os corações e embora não nos permita sondá-lo, Ele nos deu a capacidade de ver os frutos que surgem desse coração.
- ...Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento; (Mt 3.8)
- ...Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. (Mt 7.17-20)
A verdade não teme ser testada. O arrependimento verdadeiro é capaz de perdurar no tempo. Vamos exemplificar isso na vida de Paulo. Saulo de Tarso era um homem muito perigoso para os crentes do 1º século. (At 9.1). Após sua conversão em Atos 9 diversos crentes duvidaram de seu arrependimento. Nem mesmo Ananias queria orar por ele (At 9.13). Saulo havia criado um histórico negativo e agora não seriam simples palavras que convenceriam as pessoas do contrário.
Até os Judeus incrédulos duvidaram de seu arrependimento e conversão, e ficaram confusos (At 9.21-22). Precisou de um bom tempo para que estes aceitassem que Paulo havia realmente mudado de lado e passassem a odiá-lo por isso. (At. 9.23-24) Porém, mesmo com o ódio dos Judeus como evidência, os crentes ainda eram céticos e prudentes como a serpente no trato com o novo Paulo. Ninguém queria se aproximar deste novo irmão em Cristo.
E o que fez Paulo? Acaso reclamou? Acusou os crentes? Não! Ele permaneceu em Damasco por breve período (At 9.19b), depois partiu para a Arábia (2 Co 11.32; Gl 1.17) e retornou para Damasco (Gl 1.17, At 9.20-22), onde os judeus e o governador Aretas tentam prendê-lo e matá-lo. Com a ajuda de alguns irmãos, Paulo escapou pela muralha da cidade (At 9.23-24; 2 Co 11.32-33). Anos mais tarde, ele se encontra apenas com Pedro e com Tiago irmão de Jesus. Provavelmente porque os demais não acreditavam em sua conversão e arrependimento, sendo que não queriam se expor a liderança da igreja a alguém assim (At 9.26).
Foi somente com a ajuda de Barnabé e o testemunho que este deu a respeito da real mudança de Paulo, que a igreja começou a se abrir para o novo Apóstolo. Ou seja, é possível duvidar do arrependimento de alguém e esperar prudentemente para se ter certeza disso.
O próprio Paulo parece entender e aceitar, visto nunca se queixou dos irmãos duvidarem de sua conversão, do seu genuíno arrependimento. Ele sabia que mudanças verdadeiras até podem ocorrer num estalar de dedos ou no caso dele, num cair de cavalo, mas as pessoas precisariam de tempo para crer nisto. Assim, quem pecou deve considerar a gravidade do que fez e dependendo da situação dar tempo para que os irmãos vejam se o arrependimento é real ou fictício.
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Marcos Samuel ♦ Pastor
IBR Bragança