
A parábola das 10 virgens (completo)

"O Reino dos céus, pois, será semelhante a dez virgens que pegaram suas lâmpadas e saíram para encontrar-se com o noivo. Cinco delas eram insensatas, e cinco eram prudentes.”
Quem são as dez virgens que esperavam pela chegada do noivo nesta passagem? A hermenêutica (interpretação) bíblica faz clara distinção entre Israel e a Igreja. A relação entre Cristo e a Igreja é vista em muitos trechos como a relação de um noivo e uma noiva, que embora seja virgem, não é chamada desta forma, exceto em 2 Co 11.2, por comparação com fins claramente ilustrativos. (Jo 3.29; Rm 7.4; Ef 5.25-33; Ap. 19.7-8; 21.1-22.7)
Já Israel é chamada muitas vezes de ESPOSA de Deus Pai.
O Senhor trata a nação de Israel como esposa desamparada, referindo-se á infidelidade de Israel, que os levou a opressão pelos egípcios, e posteriormente pelos assírios (Is 52.4; Jr 31.19; Ez 16.1-6), e no cativeiro na Babilônia (Is 54.6-8). Nestas adversidades eles seriam sarados e restaurados ou seja a esposa reconduzida aos braços do seus amado e fiel marido, o Senhor dos Exércitos (Is 1.9), o Redentor (Is 41.14), que em momento algum se esqueceu do seu povo, nem jamais abandonaria os descendentes de Abraão para sempre.
Além de ser chamado de esposa, Israel também é chamado de VIRGEM. Foi chamado assim por 14 vezes. Conforme: 2 Rs 19.21; Is 23.12; 37.22; 62.5. Jr 2.32; 14.17; 18.13; 31.4; 31.21; 46.11; Lm 1.15; 2.13. Am 5.2; Jl 1.8. A associação de “Virgem” com a nação era de conhecimento público até das crianças. É por isso que só Mateus registrou a parábola.
Pelas regras de hermenêutica, para se chegar ao sentido do texto deve-se levar em conta o objetivo do autor e a audiência primária (os destinatários). Se desrespeitarmos isso estaremos incorrendo certamente em erro. Agora fica fácil entender a passagem.
Embora os demais evangelista também tivessem conhecimento dessa conversa, o Espírito Santo moveu apenas Mateus a registrá-la. Por quê? Porque isso era um alerta ESPECÍFICO aos Judeus. Os primeiros leitores (Judeus) viram imediatamente o paralelo entre a história contada e o casamento Judaico. Eles entenderam o alerta. Coisa que nenhum gentio entenderia, pois isso, não faria sentido algum para eles.
O casamento da noiva (igreja) e o noivo (Jesus) acontecerá depois que a tribulação começar aqui na terra. Quanto a data, ele é futuro, quanto ao local é celestial. Israel não adentrará ao casamento, pois isso não é para eles. Eles já são casados com Deus Pai (Is 54.5) portanto, não se casarão com o Deus filho, isso seria “incesto”! Algo abominável na cultura judaica. É por isso que a chegada do noivo não é para eles Judeus. Eles são apenas convidados para desfrutar de uma festa.
Jesus chamou os discípulos que eram Judeus de convidados. "Como podem os convidados do noivo jejuar enquanto este está com eles? Não podem, enquanto o têm consigo. Mas virão dias quando o noivo lhes será tirado; e nesse tempo jejuarão.” Marcos 2:19,20
João Batista (um judeu) sabia que não era noiva de Cristo, mas apenas um convidado/amigo do noivo: “Aquele que tem a NOIVA (Igreja) é o NOIVO (Jesus); mas o amigo do NOIVO (os Judeus), que lhe assiste e o ouve, alegra-se muito com a voz do NOIVO. Assim, pois, já este meu gozo está cumprido.” João 3.29
Muitos não fazem distinção entre casamento e festa do casamento, algo que para os primeiros leitores era muito tranquilo e comum. O casamento ocorre no céu entre o noivo e a noiva (igreja), pois é dito, “é chegada as bodas”(Ap 19.7). O termo grego (elthen) NO AORISTO, significa um ato concluído e finalizado. Desse modo as bodas ocorrem no céu entre o tribunal de Cristo e a 2ª vinda (Ap 19.14), enquanto a festa acontecerá na terra (Ap 19.9).
Quanto as expressões Reino dos céus e reino de Deus, embora não sejam sinônimos, são termos intercambiáveis.
Ambos são usados com referencia ao reino milenar, ao reino espiritual de Deus e a forma misteriosa do reino. Embora reconheça a diferença entre os aspectos terrenos e eternos do plano do reino, devemos evitar absolutos. Apenas o contexto deve determinar o significado que se quer comunicar com o uso de cada um deles.
Neste caso das virgens, pode significar o reino que vem do céu, o reino que pertence ao céu, o reino que vem de Deus ou que pertence a Deus. Assim, parece que nesta parábola Jesus está dizendo que o reino que virá dos céus, ou seja que tem sua origem no céu e será instaurado na terra é semelhante a uma festa de casamento. Quem quiser participar dele deve estar preparado. Isso se aplica aos convidados, não a noiva. Ninguém abandona a noiva porque ela ainda não arrumou o cabelo, as unhas ou colocou os sapatos. O noivo não a deixará para trás, haja o que houver! Mas os convidados, sim! Uma festa se inicia com ou sem os convidados estarem prontos. Isso é problema deles! Aliás quem vai arrumar a noiva para o casamento é o próprio noivo, conforme Efésios 5.25-27.
(Parte 2)
Quando interpretamos parábolas, devemos nos lembrar sempre que o sentido dela, (o objetivo) é mais importante que os detalhes contados na história. Mas os detalhes não devem ser ignorados, pois eles ajudam a entender o sentido.
Neste caso, o sentido é: “JUDEUS, fiquem preparados para quando o noivo vier com Sua noiva. Caso contrário, vocês correm o risco de ficar de fora do privilégio de participar da festa deles, com eles. Fiquem atentos, pois a festa não depende de vocês.”
A festa é oferecida a Judeus e Gentios que foram salvos pela fé durante os 7 anos do período de tribulação. Os salvos desse período, os que conseguirem permanecer vivos até o fim dos dias descritos em Mateus 24, serão os convidados para festa do casamento, o milênio. Assim, esse alerta não é para a igreja, visto que ela nem mesmo estará na terra durante aquele momento da história humana.
Devemos porém, deixar claro que podemos tirar aplicações para a igreja neste texto, mas não é o objetivo dele dar alertas à ela. Jesus tinha feito isso antes. Ele disse um pouco antes em Mt 24.20 que os discípulos deveriam orar para que a perseguição do Anticristo não acontecesse no inverno. Sinceramente pensem nisto e depois respondam:
Deve realmente a igreja cristã orar por isso?
Qual o problema se for inverno para igreja? Não temos blusas? Qual a aplicação de não orar no inverno para a igreja que está na África? Eles deveriam orar para não ser no verão, não é mesmo? Isso tem uma aplicação para um grupo específico e não todos.
Jesus também disse: “Orem para que a perseguição não ocorra num dia de sábado.” Novamente responda:
Qual a importância disso para igreja brasileira?
Acaso devemos ensinar a igreja brasileira a ser sabatista?
Embora possamos tirar aplicações, elas serão bem genéricas.
Assim, a significância para a igreja gentílica, nestes casos, é quase zero! Mas veja que para os Judeus é questão de vida ou morte.
Todos os leitores Judeus entenderam claramente o alerta. Se a perseguição do Anticristo se der no inverno eles morrerão facilmente, visto que Jerusalém é cercada por montanhas que no inverno são cobertas de neve e assim impedirão o sucesso da fuga. Da mesma forma, se a perseguição ocorrer no sábado, os judeus irão preferir morrer a quebrar a lei de Moisés que os proibia de andar longas distâncias.
Já para a igreja, que não estará na tribulação, esses alertas perdem o sentido. É o mesmo princípio com a parábola das virgens. Ela tem por objetivo apenas para os Judeus! Tão claro como o sol do meio dia.
Os que se opõe a isso perguntam: Então porque a noiva não sai ao encontro do noivo como no casamento judaico? Isso é simples. Como já vimos, não devemos nos ater a todos os detalhes de um história, mas ao sentido dela. Assim, a igreja não sai ao encontro de Cristo, porque ela é raptada. Ela é levada ao encontro com ele. Ela atende ao chamado poderoso Dele. Dessa forma, não há iniciativa da noiva, mas sim uma reação obediente ao convite recebido.
Quanto a necessidade de vigilância ressaltada pela parábola das 10 virgens, alguém pode dizer: “Se Jesus virá buscar sua igreja, estando ela preparada ou não, a necessidade de vigilância proposta e a própria parábola perde todo o sentido e relevância.” Porém, isso não é verdade, não!
Onde na parábola fala que A NOIVA deveria estar preparada? Na verdade o termo noiva sequer aparece. Não se pode pegar a palavra VIRGEM e dar a ela o sentido que quisermos. A verdade é que o texto não menciona nenhuma noiva. E sabe por quê? Porque não há mais uma noiva do cordeiro naquele momento.
Naquele momento da parábola e de acordo com o rito do casamento judaico, a noiva ali já era esposa. A própria palavra ‘noivo’ é corretamente traduzida em muitas versões como Marido ou Esposo. Quando ocorre a parábola, Jesus já se casou com a Igreja.
A Bíblia faz distinção entre os termos Noiva e Esposa em cada momento da história humana:
- Enfeitada como ESPOSA para o seu marido. Ap 21:2
- Mostrar-te-ei a ESPOSA, a mulher do Cordeiro. Ap 21:9
- E o Espírito e a ESPOSA dizem: Vem. Ap 22.17
Por fim, essa parábola nada fala sobre o dever da noiva estar preparada. Fala apenas das virgens, damas da noiva que foram prudentes ou imprudentes e como já vimos por 14 vezes Israel é chamada assim.
Será que os leitores iniciais entenderam que as virgens referidas eram a igreja? Acredito que não! Seriam os leitores atuais capazes de entender melhor a escritura do que os da época de sua escrita? Certamente que não!
Salvação é só por fé. Por isso, estando nós prontos ou não, vigiando ou não, em santidade ou em pecado, Jesus levará os que comprou para si. Ele já nos perdoou de todos os pecados, passados, presentes ou futuros. Até o jovem que foi entregue ao diabo por Paulo por viver em pecado, será salvo também, conforme 1 Co 5.
Salvação não depende do que fizemos, fazemos ou faremos. Depende exclusivamente do que ele fez por nós. Mas isso, não nos dá direito de viver em pecado. Caso façamos isso, Deus nos disciplinará (cf. Hb 10.27-35), podendo inclusive nos matar aqui, pois é fogo consumidor. Mas nossa salvação eterna já está garantida.
Veja também:
- Gráfico: A parábola das 10 virgens - Visão Dispensacionalista
- Programa Vejam Só! - A parábola das 10 virgens, exibido em 05/07/208
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Marcos Samuel ♦ Pastor
IBR Bragança